20 março 2013

Matéria do Jornal do Comércio de hoje


Preservação da área verde mobiliza população da Capital
Pedro Henrique Tavares
MARCO QUINTANA/JC
Jacqueline, do Viva Gasômetro, está otimista com a criação do parque
Jacqueline, do Viva Gasômetro,
está otimista com a criação do parque

A declaração do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), de que as pessoas não utilizam as árvores, ao comentar a repercussão do corte da vegetação no entorno da Usina do Gasômetro para viabilizar a duplicação da avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio), esquentou o debate entre população e Poder Público. No dia 6 de fevereiro, moradores da região impediram o corte de algumas unidades subindo em cima dos troncos - a previsão era derrubar 115 árvores.

De lá para cá, foram realizados vários atos de protesto que culminaram com uma grande audiência pública na Câmara Municipal, na segunda-feira à noite. Outro tema que surgiu a partir do episódio da derrubada das árvores foi a criação do Parque do Gasômetro, um dos itens da revisão do Plano Diretor de Porto Alegre, sancionada por Fortunati em 22 de julho de 2010. Uma reunião para tratar da compensação das árvores derrubadas e da criação do parque acontece hoje, às 17h, na Câmara Municipal. A reportagem do Jornal do Comércio conversou com a presidente do Movimento Viva Gasômetro, Jacqueline Sanchotene, uma das ativistas que participa das discussões.


Jornal do Comércio - A discussão acerca do Parque do Gasômetro voltou à tona com o corte das árvores no dia 6 de fevereiro.

Jacqueline Sanchotene - Estávamos tranquilos a partir da sanção do parque pelo prefeito. Às vezes, pedíamos Tribuna Popular para relembrar que fosse cobrado o parque. O inciso 21º remete à extensão do parque, que é uma lei complementar. Não é matéria de Plano Diretor tratar de tamanhos de parque, mas dar uma diretriz para o Executivo municipal. Na tribuna, cobrávamos a ajuda do Executivo e do Legislativo. Até que, em 22 de dezembro de 2011, não tinha nenhum vereador para nos assistir. Compreendemos que o assunto estava sendo exaurido, mas tínhamos uma tranquilidade de que o parque iria acontecer. Então, na semana do Carnaval, fomos surpreendidos pelo corte das árvores. Saímos em busca de informações e vimos que estava dando colisão com o parque. Começamos a cobrar do Executivo o que estava acontecendo.



JC – E, então...

Jacqueline - Na verdade, a população se apropriou da ideia do parque agora. Foi todo um trabalho de colocar no Plano Diretor, a partir do nosso movimento (Viva Gasômetro). Isto não quer dizer que a população tenha estado de fora antes, porque tomamos conhecimento do estudo do Parque do Gasômetro em maio de 2007, quando começamos a participar das reuniões preparatórias da revisão do Plano Diretor. Na ocasião, o arquiteto Rogério Dal Molin, da Secretaria de Planejamento, relatou que havia coordenado 16 representantes da sociedade civil em uma visita pelo Centro da cidade. Foi feito um pré-estudo com várias sugestões. Nos encantamos com a proposta do parque e defendemos a colocação no Plano Diretor. Aprovamos o Parque do Gasômetro e o Largo do Gasômetro (aumento das calçadas em frente à Usina). Com os prazos das obras para a Copa do Mundo de 2014 acho que estão primeiro pensando em fazer a duplicação da avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio) para depois fazer o parque.



JC - Mesmo com a retomada do corte das árvores, é possível fazer o Parque do Gasômetro?

Jacqueline - Se cortarem as árvores, mas forem plantadas outras e formos compensados com um grande parque, com trincheiras e não outra forma de interlocução entre as praças. O importante é que façam o Parque do Gasômetro, com a duplicação subterrânea.



JC - O saldo da audiência de segunda-feira foi positivo?

Jacqueline - Muito positivo. A única questão é que foram poucas falas para cada lado. Conseguimos falar na Tribuna Popular, às 14h, o que balizou muitos vereadores, mas não conseguimos falar na audiência.



JC - A prefeitura foi muito criticada por não ter considerado outros projetos. Acha que, depois dessa audiência, o Executivo vai olhar com mais atenção para outras opções?

Jacqueline - Acho que não só a prefeitura, mas também os vereadores. Devem começar a prestar mais atenção no que aprovam na Câmara, assim como o prefeito observar melhor o que ele sanciona, vendo quais as implicações, para que as coisas sejam exequíveis. Nós não temos a menor dúvida de que o Parque do Gasômetro é exequível, porque existem técnicos envolvidos e, mais do que a prefeitura e o Legislativo, acho que a população deve cobrar mais. A Câmara de Vereadores tem esse espaço maravilhoso que é a Tribuna Popular. Nosso movimento conquistou o parque por causa da Tribuna Popular.



JC - Acredita que o Parque do Gasômetro ainda poderá ser concretizado nos próximos quatro anos?

Jacqueline - Eu acho que sairá em breve. Existe um problema de prazo quanto à entrega das obras da Copa do Mundo e, nessa tentativa, o Parque do Gasômetro foi colocado em um segundo momento. Acredito que seja isso. Acredito que o parque deva sair e que seja em breve.



JC - A criação do parque não poderia ser uma alternativa de projeto para a Copa?

Jacqueline - Sim. Inclusive estive com o secretário municipal do Meio Ambiente, Luiz Fernando Záchia, que é ligado ao futebol, e dei a ideia, dei o exemplo da Alemanha, onde parques foram construídos durante a Copa para os torcedores comemorarem. Houve muito desconhecimento em relação ao Parque do Gasômetro de alguns setores do Executivo e também da população. Eu acredito que seja em breve e que seja compatível. A duplicação sai por baixo, e o parque sai por cima. Não queremos criar atrito e briga, queremos um lugar melhor. Uma via expressa não tem sentido. Oitenta e dois por cento dos prédios históricos da cidade estão nessa região. Os arquitetos da Secretaria de Planejamento descreveram este local como o umbigo da cidade. As grandes cidades do mundo têm o centro histórico preservado.


Notícia da edição impressa do JC de 20/03/2013 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.